Porta-retratos

Não lhe agrada a ideia de saber que há um porta-retratos com a foto dela em outra sala de estar. É incômodo o fato de se sentir uma “pessoa de papel”, frágil ao ponto de ser partida ao meio por um leve movimento. Mas, a foto lhe imprime este estado de espírito: o de se partir em milhares de pedaços diante da mais simples mudança. 
Ninguém vê realmente uma “pessoa de papel” e nem ao menos compreende o que ela diz. Um porta-retratos na estante, imóvel, incapaz de ter sentimentos, fácil de lidar, fácil de esquecer em um canto... 
Existe ex-marido, ex-namorado (a), ex-mulher, mas nunca “ex-filho” e muito menos um “filho de papel”. Um porta-retratos na sala de estar não exime ninguém de sua culpa e não conserta nada, só intriga ainda mais. Há pais que se esquecem dos filhos por anos na estante, e quando se lembram de olhar para a foto já não os reconhecem mais e a pessoa da foto também não quer ser reconhecida, pois nenhum ser cria laços com alguém que não se importa e se distancia sem olhar para trás. 
Ela está na foto, porém, nem na foto ela gostaria de estar. Pessoas que não fazem parte de nossas vidas, não merecem nossas fotos, uma foto pode revelar muito, ou o bastante que queremos manter distante de pessoas hipócritas. Para ela é hipocrisia basear-se na “pessoa de papel” para formar sentimentos ou, forçar sentimentos. Quem não lembrou ontem pode esquecer-se para sempre, não faz diferença. Hoje não convencem os elogios e abraços que ontem foram simplesmente omitidos. 
Um “filho de papel” não é seu filho, é um objeto que não nutre sentimento algum, simples assim.

Os Lares de Natanael

Não poderia ser diferente, minhas primeiras palavras em um livro estão na Coletânea Lar. "Ao meu lar: a escrita."

O filtro básico para a informação

Em algum momento, diante da televisão, ouvindo uma música no rádio ou lendo notícias pela internet, você se perguntou: será que não há nada de mais interessante no mundo para estarem divulgando isto? Eu já! Inúmeras vezes. Então comecei a pesquisar. 
Não penso em relacionar meus apontamentos com teorias conspiracionistas que indicam um processo de “idiocracia programada”, ou seja, notícias, músicas, programas televisivos, propagandas e afins que chegam até nós com o propósito de alienação, de nos manter afastados das verdadeiras informações e da busca pela intelectualidade. Como isso funcionaria (ou funciona)? Enquanto nos mantêm distraídos com o que não tem importância, a verdade é manipulada ou nem chega até nós. 
Concordamos que é mais fácil dominar uma população inerte ao conhecimento? Uma grande parte da juventude de hoje foca no que a mídia impõe como “modernidade”, ou você acha que músicas com letras absurdamente incultas e impróprias não impregnam a mente das pessoas com “ideias fracas”? Pior que isso, arrisco dizer que causam uma verdadeira “lavagem cerebral”. 
 Muitos portais brasileiros de notícias pela internet seriam até engraçados se não apontassem para uma tragédia no campo intelectual: dispõem sobre a vida de celebridades como se o beijo do fulano, a roupa do beltrano e o passeio do sicrano fossem algo de importância para a sociedade. Aí você pode estar pensando: “se ela não gosta que não leia, que vá para outra página”. Mas se a outra, e a outra e a outra página tratarem dos mesmos assuntos? Sendo que citei os mais tênues, não preciso falar nas excentricidades que circulam como algo bonito e exemplar para ser copiado. 
A televisão mostra pontos de vista, mas e a verdade? Será que realmente há um comprometimento com a verdade pelos telejornais que acompanhamos diariamente? E os programas com os quais somos bombardeados? Sim, parece uma guerra do baixo nível contra a educação de escolas e famílias. É uma competição quase desleal, visto que adolescentes buscam inspiração em seus ídolos ao invés de absorver o que lhe é ensinado por meios que realmente tem esse fim: ensinar e não alienar. 
Até aqui está tranquilo (é, nem tanto...). 
Agora: Por que quase ninguém mais lê? Não digo apenas livros, mas ler, buscar conhecimento. Tem muitos textos, inclusive na internet, informativos e que induzem a refletir e a formar pessoas argumentativas. Por que se vê tanta propaganda apelativa sendo que o princípio é fazer o outro comprar porque se encantou com as “curvas” da modelo seminua? E as novelas, pessoal? O que de bom as novelas ensinam? Violência, relações infiéis, gente malandra se dando bem, preconceito e verdadeiros ferimentos na dignidade humana. As músicas do momento, pelo menos a maioria delas, não tem nem cabimento. Muitos se aproveitam da liberdade de expressão para tornar nossos ouvidos locais de descarte de inutilidades e baixarias. 
Já que diversos meios não possuem um filtro baseado no bom senso, depende de cada um filtrar e absorver somente o que contribui para o desenvolvimento humano. Humor é bom, desde que na medida certa e sem apelos de baixo nível. As músicas fazem um bem enorme para a mente e a alma e é baseado nesse fato que cantores deveriam fazer sucesso. Assistir televisão é um caminho acessível para o entretenimento e a informação, mas neste caso também se deve ser seletivo e não se deixar manipular. A inteligência humana é totalmente capaz de discernir o que lhe é conveniente, porém, algumas vezes, fico com a impressão de que este botão não é acionado e algo deve ser feito antes que ele enferruje, se isso acontecer, a alienação será fatal para a sociedade futura.

Anjos ocultos

Recentemente o cientista húngaro Attila Andics, desenvolveu uma pesquisa com cães para saber se realmente nossos amigos nos compreendem. Comprovar cientificamente que esses animais entendem como nos sentimos é importante, mas não chega a ser uma novidade para os adoradores de cães. 
Qualquer pessoa que tem a oportunidade de conviver com um cachorro sabe que ele é capaz de compreender nossos sentimentos e palavras. Sentar ao lado desse amigo de quatro patas e conversar é uma excelente terapia. Basta olhar para a carinha dele e ver que ele está nos ouvindo. Quando estamos tristes e buscamos a companhia de um cão, ele nos olha com seus olhinhos de amor e parece dizer que tudo vai ficar bem, abana o rabinho lentamente, nos busca com a patinha, faz um carinho, tudo para nos animar. Quando chegamos felizes, ele também está pronto para brincar e aumentar nossa alegria. 
Tanto cientificamente como afetivamente está comprovado que animais têm sentimentos e esses devem ser respeitados. Quantos desses seres sofrem nas ruas devido ao descaso daqueles que um dia foram seus tutores? Muitos. E é triste ver tantos animais abandonados, sofrendo e passando necessidades visto que são almas de puro amor. Por isso, resolver ter um cão não é algo simples e deve ser bem pensado. É uma vida, deve ser tratado como um membro da família, que precisa de cuidados, carinho e proteção. Ser humano nenhum tem o direito de maltratar os seres que estão neste mundo para nos dar verdadeiras lições de vida.
Observar a natureza é uma lição de vida, todos os dias. Acompanhar as atitudes dos animais, principalmente dos cães, com os quais podemos conviver mais, é algo que nos engrandece como obra de Deus. Nenhum ser é autossuficiente, temos muito que aprender um com os outros. O trecho abaixo, do livro Marley e Eu (John Grogan) emociona e é uma realidade incontestável: 
“Para um cão, você não precisa de carrões, de grandes casas ou roupas de marca. Símbolos de status não significavam nada para ele. Um graveto já está ótimo. Um cachorro não se importa se você é rico ou pobre, inteligente ou idiota, esperto ou burro. Um cão não julga os outros por sua cor, credo ou classe, mas por quem são por dentro. Dê seu coração a ele, e ele lhe dará o dele. É realmente muito simples, mas, mesmo assim, nós humanos, tão mais sábios e sofisticados, sempre tivemos problemas para descobrir o que realmente importa ou não. De quantas pessoas você pode falar isso? Quantas pessoas fazem você se sentir raro, puro e especial? Quantas pessoas fazem você se sentir extraordinário?” 
E então, não é realmente algo para se pensar? Quem somos nós para acreditarmos que estamos à frente de qualquer outro ser, sendo que muitos de nós nem são capazes de amar incondicionalmente e colocam acima de tudo o status e o dinheiro? Os animais nos dão verdadeiras aulas de como valorizar o que realmente importa. Somos animais também, ditos “racionais”, mas frequentemente nos esquecemos de nossa condição neste mundo, condição que é a mesma para qualquer ser vivo, somos mortais, levamos apenas nossa alma e é nela que devemos investir. Fomos presenteados por Deus com irmãos magníficos, irmãos que nos abraçam e ensinam todos os dias, temos uma família na natureza, temos animais bondosos, como os cães, que nos acolhem e nos compreendem, muitas vezes, mais do que outro ser humano. 
Por isso, independente de qualquer pesquisa, um coração bom sabe que deve respeitar outra vida, seja ela qual for, e que essa vida divide este mundo conosco com um propósito. Nenhum de nós sabe, exatamente, como Deus se manifesta ou como coloca anjos em nossa companhia, por isso, se deve prestar atenção nos sinais e reconhecer a mão do Criador em todas as suas obras.

Lazer consciente



É dever de todo o cidadão zelar pela preservação do meio onde vive, por questões de consciência, ética, saúde, harmonia e inteligência. As pessoas esquecem-se disso, às vezes.
Basta caminhar pelas ruas da cidade em um final de tarde de domingo para deparar-se com muito lixo, infelizmente, fora das lixeiras. O quadro é deprimente. As pessoas passam suas horas de lazer na praça central e não a preservam, não cumprem com seus deveres de cidadãos. Papel, latas, plásticos, garrafas, copos e todo o tipo de entulhos, tudo por tudo, menos no seu devido lugar.
As grandes cidades já pagam caro pelo descaso com o lixo produzido, que contribui muito para os grandes desastres causados quando a chuva vem em grande quantidade, já que os resíduos sólidos entopem os bueiros impedindo a passagem da água, o que causa os alagamentos. Vai ser preciso que isso aconteça para que se comece a levantar do banco em direção a uma lixeira? Será necessário que a água leve a primeira casa para que a população espere chegar até a lixeira mais próxima e só então deposite o lixo?
Para muitos, uma embalagem de bala no chão não é nada, imaginem se todos pensassem assim, o mundo estaria lotado de embalagens de bala. Para outros, folhas e folhas de caderno desperdiçadas em “guerras” de bola de papel não é nada, enganam-se, pois as árvores, mesmo parecendo tão frondosas e resistentes, acabam.
O mais perturbador é que casos como esse, visto em nossa cidade, principalmente na praça central, não ocorre por falta de informação e nem por falta de limpeza ou local adequado para depósito do lixo, mas sim pelo descaso da população, que não zela por seu patrimônio e pelo meio ambiente. O que falta para que a mudança ocorra? Um puxão de orelha? De forma sutil, aqui está!

Fechado para reforma

Antes de qualquer evento a casa deve passar por um processo de organização. O Brasil esqueceu-se. Este ano nosso país será o centro das atenções e como estão as coisas?
Pessoalmente, não acho que sejamos indignos ou incapazes de receber eventos importantes como uma Copa do Mundo de Futebol, afinal, somos um país alegre, receptivo e, se bem administrado, rico. A justiça igualitária permitiria a construção de estádios e hospitais, o investimento no esporte, na saúde e na educação, o que nos é roubado é que torna os eventos de 2014 egoístas. O Brasil é um país de poucos onde muitos sofrem.
Só que agora está feito, ou quase feito e um tanto quanto atrasado. Mas e os brasileiros, como anfitriões, estão preparados? Não, não, não. E nem adianta procurar um professor de etiqueta agora, de última hora, o caso é grave.
Nossos jovens estão se agrupando em shoppings e causando o maior alvoroço, essa é a forma como aproveitam seu tempo de férias: combinando “bagunça” pela internet. Ideias produtivas deveriam ocupar a mente da juventude, mas isso é dificultado, cada dia mais, basta olhar em volta, ligar a televisão, ouvir certas músicas, frequentar alguns lugares.
De dentro dos presídios partem os comandos mais desumanos, nem as grades detêm as maldades, aliás, muito menos as grades detêm as maldades. O Estado se mostra totalmente vulnerável diante de situações como esta. Inocentes pagam com a vida.
O trânsito é um caos e os motoristas reclamam das estradas, mas não lembram do dever de evitar a embriaguez e reduzir a velocidade. Mais vítimas.
O mundo possui a placa de “fechado para reforma” faz um bom tempo, e sabe como é reforma, sempre demora. A do Brasil então está mais do que atrasada, creio que nem tenha começado.
Muitas palavras já foram ditas no intuito de conscientizar as pessoas de que a mudança começa de dentro para fora. O problema é enfrentar o mundo se você decidir mudar, definitivamente se é atropelado. O jovem que não se “enquadrar” é deixado de lado, o motorista que não acelerar até o limite é considerado fraco e o dinheiro torna-se o medidor da felicidade. A vida do outro? Para muitos, apenas um detalhe. Precisa-se de reforma, urgente!

Apelo


Hoje é completamente errado afirmar que homens se engalfinham em brigas como animais, afinal, são muito piores. 
Hoje são os animais que nos dão verdadeiras lições sobre família, amor, compaixão e apego. Quem ensina quem? 
Hoje deixamos muito a desejar como a raça evoluída, o ser inteligente. 
Sabemos que há uma cadeia alimentar entre as espécies, isso sempre existiu. Mas, o que mais vemos na convivência humana são pessoas tirando a vida uma das outras sem motivo nenhum. Como explicar? Há quem diga que é o fim dos tempos, outros afirmam que sempre foi assim, para mim não interessa a cronologia, mas sim os fatos e tentar buscar algum entendimento. 
Nascemos como qualquer outro animal e nos desenvolvemos da mesma forma, a diferença é que somos dotados de “inteligência”, escrevendo assim parece até piada, que inteligência? Ou melhor, para que a estamos usando? Em resposta a essa pergunta aparecem as seguintes conclusões: 
- Usa-se a inteligência para arquitetar planos de guerras, bombas, armas, experimentos. Muito disso gera consequências na saúde, qualidade de vida, relações e atividades da sociedade a curto e longo prazo. Com isso, o ser humano busca formas de minimizar ou solucionar esses problemas e progride. Realmente progride? Que forma de evolução é essa que destrói para depois remediar e embasa seu desenvolvimento nesse conceito errôneo de inteligência? 
- Usa-se a inteligência para viver em sociedade pacífica. Usa-se mesmo? Não vivemos bem com seres de outras espécies e muito menos com os da nossa. Mães e pais que abandonam seus filhos, filhos que agridem ou assassinam seus pais, pessoas que causam verdadeiros massacres, assassinos do trânsito, agressões descabidas, abuso por parte das autoridades, justiça para poucos ou quase ninguém e a lista é grande. Não se respeita o meio em que se vive, até animais ditos de estimação são abandonados todos os dias a própria sorte, sem um pingo de compaixão e sentimento. Então, se atribuí muito disso ao estresse dos dias atuais, aos problemas mentais recorrentes, aos traumas e a falta de oportunidade. Mas de quem é a culpa para que tudo isso venha à tona? Do ser racional. É um círculo vicioso e dá a impressão de que não será quebrado jamais. 
Sempre há desculpas e explicações para tudo, incrustado nisso está o comodismo. As expressões mais comuns são: “hoje em dia é assim”, “a culpa é do governo”, “que aumentem as punições”, “o Brasil não tem jeito”... O problema é quem se omite, quem se esquece dos sonhos, quem passa por cima de tudo e todos para conseguir o que quer e o dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro... 
E você que vai para as baladas, enche a cara, pega a “droga” do teu carro, sai em alta velocidade e acaba com a vida de inocentes? Você é sim o responsável pela atual condição do mundo, não seja hipócrita! O vocabulário ficou forte? Sim, na medida da minha indignação. 
As pessoas agem assim: não basta ter uma mulher ou homem só, o divertimento não pode ser sadio, é preciso beber, usar drogas, desmoralizar com tudo, abusar de comportamentos vulgares e ainda por cima contar vantagem. Belos exemplos de seres inteligentes. 
Para mim não serve nada disso, meu modelo de sociedade é baseada na paz e no amor. Um tanto quanto hippie? Não, não gosto de estereótipos, só valorizo o que realmente importa. E não me canso de dizer que o ser é o que realmente importa. O que você ensina primeiramente para os seus filhos: saber manusear um celular ou preservar a natureza e todos os seres que fazem parte dela? Eu, infelizmente, sei a resposta. De que adianta tantos gênios se o mundo está sucumbindo por nossa culpa? 
Ninguém é perfeito, mas estamos à beira da imperfeição total. O mundo pede socorro, precisamos ouvir seu apelo.