Filosofia de chuveiro


Uma situação bem comum nos tempos da escola é passar pelo constrangimento da escolha de times, nas aulas de educação física. Quem nunca passou por isso? Os dois melhores alunos de determinada modalidade ficavam um de cada lado montando sua seleção. Escolhe, escolhe, escolhe... Particularmente, eu sabia que seria uma das últimas, quando não era a última, com os dois torcendo abertamente internamente para que eu não fizesse parte do seu time. Muito bem, eu nunca me importei muito com isso, detestava educação física e tenho trauma até hoje dos ginásios de esportes. Enfim, eu aguardava pacientemente para ser escolhida e depois ia “jogar” (lê-se: correr de um lado para o outro do campo). 

Lembro-me de uma apresentação de dança, alusiva a alguma data comemorativa, onde os meninos foram enfileirados em frente à classe, enquanto as meninas ficaram sentadas para serem escolhidas pelos meninos. Hã? Como assim? É... Assim mesmo: o menino que estava em pé na frente da classe, dizia o nome da menina com a qual gostaria de dançar na apresentação. Confesso que isso me deixou ansiosa na época, não por medo de não ser escolhida, mas por algo que me pareceu errado naquilo tudo, mesmo eu tendo pouca idade (não lembro em qual série foi, exatamente). Pensei: - Nossa, vai demorar pra chamarem meu nome, isso se alguém chamar - tanto é que estava tão desligada que nem ouvi quando me chamaram (um pouco antes do que eu havia imaginado). O fato é que, eu, na infância, já conhecia as preferências, não dos meninos, mas da sociedade: comunicativas, divertidas, sociáveis... Agora você pode estar pensando que eu cresci e me tornei uma pessoa frustrada e estou escrevendo sobre isso e desqualificando boas características que as pessoas têm. Não é isso. Ser sociável é bom, mas não é tudo e, principalmente, não é a única maneira de viver. Seria importante que essa visão fosse aceita. (E olha, nem vou entrar na questão sexista da história, fica para uma próxima conversa, ou para os comentários). 

Eu sou uma das primeiras a ser escolhida, pois sou “melhor” em jogos de equipe. Eu sou uma das primeiras a ser escolhida porque me “destaco” perante as demais. Perceberam como isso é estranho? Perceberam que, certas “escolhas”, principalmente dentro de uma escola, soam de forma segregatória? Ou, não é nada disso e minha filosofia de chuveiro é completamente absurda e eu sou uma maluca? 

Em minha defesa, deixei a cereja do bolo para o final (acho que a cereja do bolo vai sempre no final, né?). Não gostaria de dar nome ao evento, para não pontuar demais o ocorrido e permitir que as pessoas liguem os fatos com datas, nomes e afins, porém, em um momento importante da minha vida escolar (lê-se: formatura do terceiro ano... ops, escapuliu!), durante a cerimônia, dois alunos foram homenageados por serem aqueles que mais ficaram nos corredores da escola, ou seja, ganharam um “presentinho”, que não lembro o que era, por terem ficado em sala de aula menos tempo que os demais. (Pausa para que vocês possam aplaudi-los). Dentro do contexto destas linhas, não haveria necessidade de se homenagear ninguém, nem os alunos com as melhores notas ou mais participativos, mas muito menos aqueles que estavam na escola fazendo exatamente o que não deveria ser feito. Agora eu volto a perguntar: essa minha filosofia é absurda? Como você acha que eu me senti nesse dia? Esse fato, ao contrário dos citados anteriormente, me deixou bem chateada. Já ficavam dando indiretas para minha mãe de que eu era muito quietinha (como se isso fosse um problema, já que meu desempenho escolar nunca ficou comprometido, e nem eu), e agora estavam premiando os desordeiros, do tipo, regras para o ano letivo: os alunos devem portar-se de forma adequada, respeitar as regras, estudar, participar das aulas que, ao final do ano, NÃO serão reconhecidos por isso. 

Agora é com vocês: quantas estranhezas puderam detectar aqui, além, é claro, daquela que vos escreve? 

O mundo é destoante, meu caro. NÃO acostume-se.

- IV -


E nos campos antigos me reconheço. Em cada frondosa árvore, no ouro do trigo.
Minha imagem nos lagos de cristal, meu olhar na vastidão do horizonte.
Lembro-me das colinas e do amanhecer, onde celebrávamos a benção de mais um dia.
Podia sentir cada irmão comigo, cada vida como uma só pelo bem de um povo.
Sentia no perfume das ervas e na firmeza das pedras a minha vocação.
Éramos livres.
Livres de verdade.
Uma liberdade condicionada apenas ao amor, pelo outro e por nosso lugar.
No frio fazíamos fogueiras e o calor nos adormecia ao luar.
Tínhamos em nós a essência mais pura e o dom da magia.
Ouvíamos a Natureza e nossa voz interior, como que conectados diretamente com o Universo.
No meio da floresta me reconheço, e toda a vez que olho para o céu.
O mesmo Sol que já aqueceu meu rosto e a mesma Lua para a qual já entoei cânticos.
Os Astros recordam-se de mim e a cada dia sinto que minha lembrança está mais vívida.
Passado forte e presente. Presente da vida, para mim.
A voz. O chamado. A Verdade. Hoje posso ouvir.
Ninguém foge do que realmente é. Mais cedo ou mais tarde o despertar acontece.
Vislumbres de algo que já fui e certamente ainda sou.
Uma Alma que sabe de onde veio e para onde, um dia, irá retornar.

- III -



Eu poderia andar com este livro o tempo todo.
Com este ou com muitos outros.
Sinto-me segura, confiante.
Como se alguém estivesse andando lado a lado comigo.
E de fato tem.
Cada palavra é uma amiga.
Mas a felicidade é indescritível
Cada história, uma vida.
Como se fizesse parte da minha.
E de fato faz.
Quantas pessoas conheci no silêncio desta conversa.
É como uma preciosidade, uma pequena semente.
Furacão e calmaria.
É o que meu coração deveras sabe.
Eu poderia andar com este livro o tempo todo.
E seria livre.


Uma centelha minha se apagou com Juma




Um belo animal, não é? 

Belo para estar livre, correr pelas matas, caçar em seu habitat natural, beber água pura, sentir o Sol, dormir em paz... 

Descanse em paz, Juma! 

Hoje chorei por você! Chorei por todas as espécies que estão em extinção, inclusive por uma espécie de amor. 

Chorei, pois você não precisava estar ali. Tinha que ser preservada como uma joia preciosa. Toda vida é uma joia preciosa. 

Juma, você pagou pelas incoerências do nosso País. Um País que deveria estar preocupado com seu futuro e não com superficialidades. 

Chorei por ver tanto preconceito, injustiça, imoralidade, desonestidade, crueldade e desamor. Chorei por nossos hospitais, nossas crianças, nossos desamparados, nossas escolas, nosso planeta. 

Pra você, Juma, assim como para mim, essa tocha não significa nada! Sua vida, a vida do povo, a preservação da natureza, isso é o que verdadeiramente importa. 

Você foi submetida a um estresse totalmente desnecessário, jamais deveria ter sido exposta como um objeto e pagou com a vida por um crime que nem cometeu. Quantos de nós pagamos um preço alto demais? Quantos já pagaram com a vida? 

Juma, meu coração dói. Se você estava enjaulada para que sua espécie não desapareça é porque, no passado, algo muito errado aconteceu. Algo muito errado está acontecendo...

Não consigo olhar para sua foto sem sentir lágrimas em meus olhos. São tantas fotos, tantas lágrimas, tantos inocentes... De todas as espécies. 

Eu não estava presente no momento em que sua vida lhe foi tirada, não preciso julgar circunstâncias, o fato mais relevante nesta situação é que você, assim como a maioria dos brasileiros, foi usada e depois, descartada. 

Evento nenhum deve usar animais. País nenhum deve usar seu povo. A vida merece estar no mais alto patamar do respeito. Juma, você estaria ainda sentindo o Sol se não tivessem lhe colocado uma corrente, e se, antes, não lhe tivessem tirado o direito de ser livre. Não é o fato apenas, mas sim, as circunstâncias que levaram até ele. 

Estamos perdendo a nossa liberdade, não é SÓ um animal, são TODAS as vidas. Somos TODOS nós. Parece que, a cada minuto, uma centelha de alma se apaga (E a tocha segue acesa, desfilando pelo nosso País em frangalhos). Juma, nesta foto, não sabia que seriam seus últimos momentos, e você, o que você sabe? 

É difícil tolerar certos tipos de aglomerações e eventos, imagina um espírito livre nesta situação. O fervor de uma vida usado em prol da exaltação de um insignificante fogo simbólico? Quanta inversão de valores. Afinal, o que essa tocha está fazendo aqui?


- II -


Paro para sentir 

Letargia. 

Onde me agarrar? 

No nada. 

Olho em volta 

Escuro. 

Quanto às certezas? 

Escassas. Fugidias.

Conversar? 

Com a alma. 

Quando? 

Sempre que houver medo.

Grandezas

“Então é Natal, e o que você fez? O ano termina, e nasce outra vez.” 
Um ano finda e outro nasce. É realmente um novo ano ou uma cópia do anterior? 
O que você fez? 
Comemorou com abraços e congratulações a chegada de 2015 entre a família, amigos e colegas de trabalho, mas, o que você fez por eles no decorrer desse ano? Manteve o espírito ou deixou até de desejar-lhes bom dia? Se responder com a segunda opção, reveja suas prioridades e deixe de lado a hipocrisia. 
Com que olhar voltou-se para tantas guerras e tragédias? Ucrânia, Iraque, Nepal, Tunísia, Bósnia-Herzegovina, Califórnia, Paquistão, Síria, Gaza, Turquia, Brasil... Não foram apenas os franceses que sofreram neste ano, há tempos muitos enfrentam situações de verdadeira calamidade. Você utiliza os mesmos pesos e as mesmas medidas? Se não, atualize suas “grandezas”. 
Esta ciente de que o outro é diferente? Respeita isso? Ou indignou-se com a propaganda de cosméticos e fechou os olhos para o “marketing” das cervejas. Reveja novamente as grandezas, coloque na balança e analise o que realmente é impróprio para a sociedade. 
Com que olhos você vê o outro? E agora não estou falando só da família, dos amigos e dos colegas de trabalho. Falo da criança, vestida de branco, que saía do culto com sua família e foi atingida na cabeça por uma pedra. Falo daqueles que vêm para o nosso país em busca de melhores condições de vida e são vítimas de preconceito e espancados nas empresas onde trabalham. Falo daqueles que, por usar suas túnicas ou burcas, já são considerados terroristas. Você os vê como irmãos? Seus irmãos?
“Então bom Natal, pro branco e pro negro, amarelo e vermelho, pra paz afinal...” 

Alexandre Beck

O que está longe te sensibiliza? Ou: - “Graças a Deus que a bomba caiu na casa do vizinho?”. Você é do tipo que procura culpados ou soluções? Veja bem, isso é muito importante. Todos, sem exceção, temos uma parte da culpa, assim como podemos ter a solução. Nunca se menospreze e muito menos se superestime, ambos são erros graves. 
Você se preocupa com o que o vizinho faz ou deixa de fazer, mas continua com seu quintal repleto de locais com água parada? Remova pneus, garrafas plásticas, coloque areia nos vasos de plantas e cuide da sua caixa d’água. Monitore a casa ao lado apenas para certificar-se de que os seus moradores estão fazendo o mesmo e, se necessário, os alerte. 
Chuva. Alagamentos. Casas destruídas. Desabrigados. É triste ver pessoas perdendo, em minutos, tudo o que levaram anos para construir. Então, além da água parada, cuide do teu lixo. Você é responsável pelo lixo que produz e não pense que um papel de bala é inofensivo. Pois, no final das contas, o pouco pode ser muito, tanto para o bem quanto para o mal. 
A crise é alarmante. Qual delas? A pior, a crise existencial. Preocupe-se, pelo menos por um instante, com essa que é um dos pilares de todo o mal. Ela não está explícita nos jornais, está em muitas almas. Trabalhe, sim, pelo dinheiro e pela promoção, mas não se esqueça de trabalhar, principalmente, para a evolução espiritual. 
Eu tenho certeza que a gente podia fazer com que fosse Natal todo dia.” (Desde que seja com votos e abraços sinceros). 
E então, o que nós fizemos?

Harmonize-se!


O que significa ir contra a própria natureza? É saber exatamente o que se quer e acordar todos os dias para fazer totalmente o contrário! Por comodidade, necessidade, falta de oportunidade ou medo deixamos de ser o que somos e de fazer o que sabemos que deve ser feito. E, como uma bola de neve, todos os dias parecem estar nos destruindo. OK, nem tudo é perfeito, mas algo precisa ser perfeito, ou, pelo menos, melhor e, estar satisfeito consigo mesmo é elementar. 
Tudo parece nebuloso, bagunçado, estraçalhado, perdido, obscuro e perder as rédeas pode ser normal, mas, é fundamental dispor-se a procurá-las e quando se vai, todos os dias, contra o que a natureza de nosso ser necessita, provamos que abandonamos as rédeas, corremos sem destino, como reféns da angústia e da desesperança. 
Nessa corrida cega acontecem choques inevitáveis que nos fazem mudar de caminho, porém, continuamos seguindo de forma contrária. Podemos até pensar que estamos na direção certa se nos basearmos nas necessidades terrenas, mas a alma acaba tornando-se prisioneira destas escolhas e de um corpo que segue pelo mesmo caminho todos os dias, mesmo que algo interior se debata vigorosamente, dando sinais, às vezes sutis, outras nem tanto, que não sabemos interpretar, ou não queremos, ou, pior, não podemos. A ignorância, nesse caso, é pacificadora, pois saber o caminho certo e não poder trilhar é, no mínimo, perturbador. 
Acredito, sinceramente, que viemos para este mundo com uma missão escolhida por nós mesmos e, na medida em que nos distanciamos deste propósito, a alma nos manda sinais físicos e/ou mentais. É por isso que, algumas vezes, não conseguimos diagnosticar certos sintomas, pois nos esquecemos de dialogar com nosso verdadeiro Eu, nos esquecemos do lugar de onde viemos e de como manter essa conexão é importante para o desenvolvimento terreno.
É necessária a constante renovação de hábitos, ideias e sentimentos, porém, devemos fidelidade ao que somos e respeito à natureza de nossa alma. Pessoas extremamente sensíveis, por exemplo, precisam assumir sua condição, adaptar-se ao mundo da melhor maneira, mas nunca ir contra seus sentimentos e percepções. Assumir é a palavra-chave. É dizer, com convicção e sem constrangimentos, em que se acredita: sou espírita, sou católico, sou protestante, sou umbandista, acredito nos elementais, sou panteísta, espiritualista, mórmon, budista, islâmico, evangélico, hindu, wiccano... Nada importa além do bem, para o amor não existem denominações, a luz, neste plano, não é concentrada, ela está em tudo e em todos, basta voltar-se para o interior e saber interpretar os sinais. Basta ver.