- IV -


E nos campos antigos me reconheço. Em cada frondosa árvore, no ouro do trigo.
Minha imagem nos lagos de cristal, meu olhar na vastidão do horizonte.
Lembro-me das colinas e do amanhecer, onde celebrávamos a benção de mais um dia.
Podia sentir cada irmão comigo, cada vida como uma só pelo bem de um povo.
Sentia no perfume das ervas e na firmeza das pedras a minha vocação.
Éramos livres.
Livres de verdade.
Uma liberdade condicionada apenas ao amor, pelo outro e por nosso lugar.
No frio fazíamos fogueiras e o calor nos adormecia ao luar.
Tínhamos em nós a essência mais pura e o dom da magia.
Ouvíamos a Natureza e nossa voz interior, como que conectados diretamente com o Universo.
No meio da floresta me reconheço, e toda a vez que olho para o céu.
O mesmo Sol que já aqueceu meu rosto e a mesma Lua para a qual já entoei cânticos.
Os Astros recordam-se de mim e a cada dia sinto que minha lembrança está mais vívida.
Passado forte e presente. Presente da vida, para mim.
A voz. O chamado. A Verdade. Hoje posso ouvir.
Ninguém foge do que realmente é. Mais cedo ou mais tarde o despertar acontece.
Vislumbres de algo que já fui e certamente ainda sou.
Uma Alma que sabe de onde veio e para onde, um dia, irá retornar.

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