- III -



Eu poderia andar com este livro o tempo todo.
Com este ou com muitos outros.
Sinto-me segura, confiante.
Como se alguém estivesse andando lado a lado comigo.
E de fato tem.
Cada palavra é uma amiga.
Mas a felicidade é indescritível
Cada história, uma vida.
Como se fizesse parte da minha.
E de fato faz.
Quantas pessoas conheci no silêncio desta conversa.
É como uma preciosidade, uma pequena semente.
Furacão e calmaria.
É o que meu coração deveras sabe.
Eu poderia andar com este livro o tempo todo.
E seria livre.


Uma centelha minha se apagou com Juma




Um belo animal, não é? 

Belo para estar livre, correr pelas matas, caçar em seu habitat natural, beber água pura, sentir o Sol, dormir em paz... 

Descanse em paz, Juma! 

Hoje chorei por você! Chorei por todas as espécies que estão em extinção, inclusive por uma espécie de amor. 

Chorei, pois você não precisava estar ali. Tinha que ser preservada como uma joia preciosa. Toda vida é uma joia preciosa. 

Juma, você pagou pelas incoerências do nosso País. Um País que deveria estar preocupado com seu futuro e não com superficialidades. 

Chorei por ver tanto preconceito, injustiça, imoralidade, desonestidade, crueldade e desamor. Chorei por nossos hospitais, nossas crianças, nossos desamparados, nossas escolas, nosso planeta. 

Pra você, Juma, assim como para mim, essa tocha não significa nada! Sua vida, a vida do povo, a preservação da natureza, isso é o que verdadeiramente importa. 

Você foi submetida a um estresse totalmente desnecessário, jamais deveria ter sido exposta como um objeto e pagou com a vida por um crime que nem cometeu. Quantos de nós pagamos um preço alto demais? Quantos já pagaram com a vida? 

Juma, meu coração dói. Se você estava enjaulada para que sua espécie não desapareça é porque, no passado, algo muito errado aconteceu. Algo muito errado está acontecendo...

Não consigo olhar para sua foto sem sentir lágrimas em meus olhos. São tantas fotos, tantas lágrimas, tantos inocentes... De todas as espécies. 

Eu não estava presente no momento em que sua vida lhe foi tirada, não preciso julgar circunstâncias, o fato mais relevante nesta situação é que você, assim como a maioria dos brasileiros, foi usada e depois, descartada. 

Evento nenhum deve usar animais. País nenhum deve usar seu povo. A vida merece estar no mais alto patamar do respeito. Juma, você estaria ainda sentindo o Sol se não tivessem lhe colocado uma corrente, e se, antes, não lhe tivessem tirado o direito de ser livre. Não é o fato apenas, mas sim, as circunstâncias que levaram até ele. 

Estamos perdendo a nossa liberdade, não é SÓ um animal, são TODAS as vidas. Somos TODOS nós. Parece que, a cada minuto, uma centelha de alma se apaga (E a tocha segue acesa, desfilando pelo nosso País em frangalhos). Juma, nesta foto, não sabia que seriam seus últimos momentos, e você, o que você sabe? 

É difícil tolerar certos tipos de aglomerações e eventos, imagina um espírito livre nesta situação. O fervor de uma vida usado em prol da exaltação de um insignificante fogo simbólico? Quanta inversão de valores. Afinal, o que essa tocha está fazendo aqui?


- II -


Paro para sentir 

Letargia. 

Onde me agarrar? 

No nada. 

Olho em volta 

Escuro. 

Quanto às certezas? 

Escassas. Fugidias.

Conversar? 

Com a alma. 

Quando? 

Sempre que houver medo.

Grandezas

“Então é Natal, e o que você fez? O ano termina, e nasce outra vez.” 
Um ano finda e outro nasce. É realmente um novo ano ou uma cópia do anterior? 
O que você fez? 
Comemorou com abraços e congratulações a chegada de 2015 entre a família, amigos e colegas de trabalho, mas, o que você fez por eles no decorrer desse ano? Manteve o espírito ou deixou até de desejar-lhes bom dia? Se responder com a segunda opção, reveja suas prioridades e deixe de lado a hipocrisia. 
Com que olhar voltou-se para tantas guerras e tragédias? Ucrânia, Iraque, Nepal, Tunísia, Bósnia-Herzegovina, Califórnia, Paquistão, Síria, Gaza, Turquia, Brasil... Não foram apenas os franceses que sofreram neste ano, há tempos muitos enfrentam situações de verdadeira calamidade. Você utiliza os mesmos pesos e as mesmas medidas? Se não, atualize suas “grandezas”. 
Esta ciente de que o outro é diferente? Respeita isso? Ou indignou-se com a propaganda de cosméticos e fechou os olhos para o “marketing” das cervejas. Reveja novamente as grandezas, coloque na balança e analise o que realmente é impróprio para a sociedade. 
Com que olhos você vê o outro? E agora não estou falando só da família, dos amigos e dos colegas de trabalho. Falo da criança, vestida de branco, que saía do culto com sua família e foi atingida na cabeça por uma pedra. Falo daqueles que vêm para o nosso país em busca de melhores condições de vida e são vítimas de preconceito e espancados nas empresas onde trabalham. Falo daqueles que, por usar suas túnicas ou burcas, já são considerados terroristas. Você os vê como irmãos? Seus irmãos?
“Então bom Natal, pro branco e pro negro, amarelo e vermelho, pra paz afinal...” 

Alexandre Beck

O que está longe te sensibiliza? Ou: - “Graças a Deus que a bomba caiu na casa do vizinho?”. Você é do tipo que procura culpados ou soluções? Veja bem, isso é muito importante. Todos, sem exceção, temos uma parte da culpa, assim como podemos ter a solução. Nunca se menospreze e muito menos se superestime, ambos são erros graves. 
Você se preocupa com o que o vizinho faz ou deixa de fazer, mas continua com seu quintal repleto de locais com água parada? Remova pneus, garrafas plásticas, coloque areia nos vasos de plantas e cuide da sua caixa d’água. Monitore a casa ao lado apenas para certificar-se de que os seus moradores estão fazendo o mesmo e, se necessário, os alerte. 
Chuva. Alagamentos. Casas destruídas. Desabrigados. É triste ver pessoas perdendo, em minutos, tudo o que levaram anos para construir. Então, além da água parada, cuide do teu lixo. Você é responsável pelo lixo que produz e não pense que um papel de bala é inofensivo. Pois, no final das contas, o pouco pode ser muito, tanto para o bem quanto para o mal. 
A crise é alarmante. Qual delas? A pior, a crise existencial. Preocupe-se, pelo menos por um instante, com essa que é um dos pilares de todo o mal. Ela não está explícita nos jornais, está em muitas almas. Trabalhe, sim, pelo dinheiro e pela promoção, mas não se esqueça de trabalhar, principalmente, para a evolução espiritual. 
Eu tenho certeza que a gente podia fazer com que fosse Natal todo dia.” (Desde que seja com votos e abraços sinceros). 
E então, o que nós fizemos?

Harmonize-se!


O que significa ir contra a própria natureza? É saber exatamente o que se quer e acordar todos os dias para fazer totalmente o contrário! Por comodidade, necessidade, falta de oportunidade ou medo deixamos de ser o que somos e de fazer o que sabemos que deve ser feito. E, como uma bola de neve, todos os dias parecem estar nos destruindo. OK, nem tudo é perfeito, mas algo precisa ser perfeito, ou, pelo menos, melhor e, estar satisfeito consigo mesmo é elementar. 
Tudo parece nebuloso, bagunçado, estraçalhado, perdido, obscuro e perder as rédeas pode ser normal, mas, é fundamental dispor-se a procurá-las e quando se vai, todos os dias, contra o que a natureza de nosso ser necessita, provamos que abandonamos as rédeas, corremos sem destino, como reféns da angústia e da desesperança. 
Nessa corrida cega acontecem choques inevitáveis que nos fazem mudar de caminho, porém, continuamos seguindo de forma contrária. Podemos até pensar que estamos na direção certa se nos basearmos nas necessidades terrenas, mas a alma acaba tornando-se prisioneira destas escolhas e de um corpo que segue pelo mesmo caminho todos os dias, mesmo que algo interior se debata vigorosamente, dando sinais, às vezes sutis, outras nem tanto, que não sabemos interpretar, ou não queremos, ou, pior, não podemos. A ignorância, nesse caso, é pacificadora, pois saber o caminho certo e não poder trilhar é, no mínimo, perturbador. 
Acredito, sinceramente, que viemos para este mundo com uma missão escolhida por nós mesmos e, na medida em que nos distanciamos deste propósito, a alma nos manda sinais físicos e/ou mentais. É por isso que, algumas vezes, não conseguimos diagnosticar certos sintomas, pois nos esquecemos de dialogar com nosso verdadeiro Eu, nos esquecemos do lugar de onde viemos e de como manter essa conexão é importante para o desenvolvimento terreno.
É necessária a constante renovação de hábitos, ideias e sentimentos, porém, devemos fidelidade ao que somos e respeito à natureza de nossa alma. Pessoas extremamente sensíveis, por exemplo, precisam assumir sua condição, adaptar-se ao mundo da melhor maneira, mas nunca ir contra seus sentimentos e percepções. Assumir é a palavra-chave. É dizer, com convicção e sem constrangimentos, em que se acredita: sou espírita, sou católico, sou protestante, sou umbandista, acredito nos elementais, sou panteísta, espiritualista, mórmon, budista, islâmico, evangélico, hindu, wiccano... Nada importa além do bem, para o amor não existem denominações, a luz, neste plano, não é concentrada, ela está em tudo e em todos, basta voltar-se para o interior e saber interpretar os sinais. Basta ver.

A verdadeira moralidade


Muito bem! A meu ver, atingimos o ápice da hipocrisia, se não, estamos quase lá! Analisem bem rapidamente o contexto da televisão brasileira. Analisaram? Pensaram nos realitys shows, programas humorísticos, novelas, filmes, séries e propagandas? Sim? Ótimo. Quanto do que é apresentado nesses aparenta ser desrespeitoso à sociedade e a família? Vários. Vários mesmo! Mas claro, vamos deixar para destilar todo o veneno em uma das propagandas mais tocantes que já vi na televisão. Vamos, mais uma vez, sufocar o amor e permitir que a falta de empatia fale mais alto. Vamos deixar que o mercado da cerveja ridicularize a mulher, vamos assentir que as novelas preguem a infidelidade e a violência, vamos deixar que a sátira siga livremente e vamos condenar sutis abraços. Vamos queimar na fogueira quem quer mostrar que todos têm os mesmos direitos, principalmente o de ser feliz. 

“Como fica a cabeça de uma criança vendo um comercial desses?”. “Não quero que meus filhos tenham esse tipo de influência”. Ah, francamente! Quem envenena a infância são os adultos, que, desde cedo, quando um menino e uma menina estão brincando juntos, começam a fazer insinuações. Uma prova de que a mente das crianças é muito mais aberta e compreensiva, vem da carta recente de uma garotinha de cinco anos ao presidente dos Estados Unidos: “Por favor, pare com a guerra no nosso mundo. Faça reuniões em vez disso. Por favor, faça um discurso dizendo que as pessoas podem casar com quem elas quiserem”. Pelo visto ela já tem uma opinião muito bem formada, nada vai influenciá-la facilmente. As crianças precisam que as coisas do mundo sejam explicadas e não escondidas, em uma família onde existe o diálogo há também a boa formação. Os primórdios da educação estão nos pais, na forma como estes abordam os assuntos e respondem às perguntas na medida em que surgem. Aquele que se dispõe a propagar comentários agressivos realmente sabe educar um filho? 

Estranho, um abraço comemorativo entre pessoas do mesmo sexo pode desestruturar a família, agora, certas cenas de novela ou propagandas de mulheres indo e vindo seminuas com uma garrafa de cerveja na mão são inofensivas. Por quê? Essas situações não condizem com falta de moral? Pense bem, qual é o verdadeiro problema da sociedade? Hipocrisia e falta de amor. Se não temos conosco as bases verdadeiras não adianta reclamar do mundo e de como ele tem se apresentado. São as nossas palavras, ideias, gestos, atitudes, qualidades e defeitos que fazem da sociedade o que ela é. Se não somos capazes de deixar que o outro siga sua vida em paz, como vamos almejar um fim para as guerras? 

"Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei; nisto reconhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros". (João 13:34-35). Alguém percebeu alguma ressalva nessas palavras de Cristo? Por acaso Ele nos diz que devemos amar ou respeitar apenas aqueles de determinada raça, religião, sexo, cultura, etnia, classe social? É o amor que faz o Espírito se elevar, o preconceito é uma prova de estagnação. A senda se torna mais ou menos penosa de acordo com a importância que damos a verdadeira moral, as escolhas que fazemos e pelo respeito ao maior mandamento de Deus.

Existe o gostar e o não gostar. Existe a liberdade de expressão. Existe (e quase sempre é esquecido) o bom senso, que deve se fazer presente em qualquer situação, para qualquer pessoa. O que não existe é se utilizar desses direitos para discriminar, desrespeitar e oprimir a liberdade de escolha. Se o próprio Deus nos concedeu o livre-arbítrio, quem somos nós, meros humanos, para julgar. Cada um que se coloque em seu lugar e viva sua vida. Simples, não acham? Os abraços do comercial não despertaram minha ira, pelo contrário, eles insuflaram uma dose extra de amor ao meu coração.

“Acreditar que Deus haja feito, seja o que for, sem um fim, e criado seres inteligentes sem futuro, fora blasfemar da sua bondade, que se estende por sobre todas as suas criaturas.” O Livro dos Espíritos (Allan Kardec)

Utopia?

Era uma vez um lugar onde as pessoas se olhavam nos olhos para conversar, e, conversavam de verdade. Elas queriam sentir o outro, saber de suas emoções, estar perto. As crianças brincavam na rua, todas juntas, criando outros mundos e vivendo sua inocência. Havia paz.

Era uma vez um lugar onde os idosos podiam contar suas histórias e eram ouvidos com atenção e respeito. A sabedoria era valorizada e cultivada e os pais trocavam experiências com seus filhos. Havia tempo. 

Era uma vez uma natureza exuberante e preservada, onde os animais sentiam-se verdadeiramente livres e as plantas respiravam sem medo. As águas eram abundantes, limpas e cheias de vida. O ar revitalizava e apaziguava a alma. Havia luz. 

Era uma vez um lugar onde as pessoas caminhavam pelos campos, observavam o céu e sentiam a vida. Colhiam frutos e ornamentavam suas casas com flores. Um dia de Sol era alegre; um dia de chuva, abençoado. Havia alegria. 

Era uma vez um mundo que sabia pedir, mas sabia também agradecer. Um mundo de filosofias e culturas respeitadas. Pessoas que, provavelmente, chorariam lendo essas palavras, pois, conheciam a força existente em um lugar como esse. Havia amor. 


Infelizmente, houve uma intervenção nesse mundo. 

Apareceu algo chamado “tecnologia” e as pessoas passaram a não mais ver os olhos do outro para conversar. Tornaram-se distantes, voltadas apenas para aparelhinhos que, aparentemente, podiam fazer tudo, menos dar amor. As crianças também se interessaram por essa novidade e a infância ficou curta e diferente. Surgiu a ansiedade. 

A caixa ruidosa com imagens constantes ocupou todas as casas, ninguém mais tinha tempo para ouvir coisas do passado, só o futuro passou a ser importante, nem mesmo o presente era vivido de forma significativa. Os filhos pensavam saber muito mais do que os pais. Surgiu a distância. 

Para manter todos os avanços que estavam acontecendo, a natureza foi perdendo o seu lugar, como se ela já não fosse essencial. A falsa liberdade dos animais tornou-os tristes e acuados, as plantas sentiam-se sufocadas, as águas foram poluídas e o ar acinzentou-se. Surgiu a escassez e o desequilíbrio. 

O povo foi adoecendo e já não via mais o belo que o rodeava. Os frutos foram substituídos por medicamentos, os motores passaram a avançar pelos caminhos e, como iam muito rápido, já não era possível ver o céu. Sol demais prejudicava a pele e a chuva podia causar outros problemas de saúde. Surgiu a fragilidade extrema. 

A descrença começou a crescer nos corações que, agora, sentiam-se abandonados. Lamentações e ingratidão tornaram-se constantes. Os valores de fé, sabedoria e honra foram sendo esquecidos. Alguns ainda pediam, mas poucos se voltavam para agradecer. As palavras verdadeiras já não tinham mais força e poucas vezes despertavam emoção. Surgiu um povo que se esqueceu da vida. 

Era uma vez...