- XI -


Na verdade, não quero muito,
Apenas uma casinha na floresta
Não precisa ter tamanho, só aconchego.
Rodeada pelas árvores,
Caminho todas as manhãs,
Sentindo as folhas sob meus pés.
Cercada pelas brumas, cuido das plantas e dos animais. 
Não preciso de muito, 
Apenas de um riacho onde eu possa banhar minha alma, 
Sentar em uma pedra, com os pés na água e relaxar. 
Ouvir o canto dos pássaros, o farfalhar das árvores, 
O aroma da Natureza. 
Quero esquecer que perdemos o rumo 
E me reconectar... 
Deixar para trás o ego sombrio do material, 
Plantar o alimento, colher as ervas, fazer minha arte. 
Sentar à sombra de uma antiga árvore para ler, 
Correr pelos campos verdes com o vento em meu rosto. 
Respirar fundo o ar puro da liberdade. 
Descalça, sinto a Terra, 
 Curando-me, me deixando mais forte, 
Resgato meu poder ancestral a cada dia, 
Faço do verde o meu poder 
E, do azul do céu, meu manto protetor. 
Não estou pedindo muito, 
Só desejo a simplicidade, 
De algo único 
 Que encontramos em nós mesmos 
E no contato com a Mãe Natureza. 
Na verdade, só desejo entrar nesse sonho, 
E viver nele a real felicidade!

A figura da bruxa é atemporal



Se, por acaso, revivêssemos o período de caça às bruxas, você já se perguntou quem seria perseguido? Vou lhe dizer: muito provavelmente você, que está lendo estas palavras, nesta página, seria considerado suspeito de bruxaria. Louco, não é? Mas, infelizmente, foi uma realidade.

Muitas ideias, culturas, comportamentos, liberdades e conhecimentos foram duramente condenados, queimados em fogueiras alimentadas pelo desprezo, medo, injustiça e irracionalidade do ser humano.

Quem mais sofreu com isso? As mulheres. Detentoras de conhecimentos antigos, práticas de saúde e técnicas para amenizar as diversas dores do corpo e da alma, elas foram perseguidas e punidas, muitas vezes, unicamente, por serem mulheres.

O fato é que esse estigma ainda habita o inconsciente (é o consciente, em algumas situações) da sociedade, sendo uma sombra ancestral que persegue muitas formas de ser e de pensar.

É difícil extirpar algo tão antigo e arraigado. Por exemplo, se reconhecer e se assumir como bruxa, sem despertar olhares espantados ou sofrer um pré-julgamento (algumas pessoas irão te queimar na fogueira de suas mentes, sem nenhuma piedade, pode ter certeza!).

Porém, cada vez mais as pessoas buscam por seus espaços, sem se preocupar com a opinião dos outros. Esse é o caminho. Ninguém precisa consentir com suas coisas místicas, sua religião, sua sexualidade, sua cor, sua cultura, sua forma de pensar, até porque não se precisa de concordância, apenas de respeito.

Sinto-me representada pela figura da bruxa, pois é atemporal, e as causas com as quais ela se envolve são, muitas vezes polêmicas, mas sempre válidas. Ser bruxa é ter a consciência da perseguição, mas também a sabedoria e o conhecimento de causa, de que é preciso continuar na luta pelos direitos de todos e na prática de suas obrigações, que estão voltadas para: a Natureza, o bem do outro, a conexão com o Universo, a magia que nos rodeia e que vive em nosso interior e para o amor. 


- X -


Ah, se um dia a tua lama te fizer lótus
Saberás que venceu...
Não a batalha entre a luz e a escuridão,
Mas o difícil caminho do equilíbrio.
Ah, se um dia a tua lótus brilhar sobre a lama
Entenderás o simples propósito da alma,
Se purificar.
Se fores lótus em meio à lama,
Seu destino se cumprirá.
Lama vira alma.
Alma vira flor.
E transcenderá.
Quando em meio à lama existir amor,
Em lótus sagrada teu espírito florescerá.


- IX -

Eu sei que há dias que não são fáceis.
Sei das batalhas travadas dentro de ti e com o mundo. Sei, mas jamais poderia mensurar.
Sei que alguns dias você se sente só e acredita que ninguém se importa.
Reconheço seu esforço.
O que posso dizer é que as coisas se amenizam: a tristeza, a alegria.
Um dia de cada vez, não é assim que sempre dizem?
Sei que você pode voltar a ser o que sempre foi. Também estou tentando.
Que tal juntarmos nossas energias?
Um restinho da minha, um pouquinho da sua e os pequenos caquinhos podem se tornar um cristal iluminado.
Pois, com amor, até mesmo o cristal se refaz.

- VIII -


Como pode o céu ser o inferno de alguém.
Como pode a luz ser também escuridão.
Como pode você ser seu próprio barco afundando.
A falha ausência da presença.
O lixo dos pensamentos.
O esquecer-se da atenção.
Mendigo carinho ou sinto a falta?
Busco apenas aquietar meu coração.
Serei eu a falha da ausência da presença?
Ou apenas mais uma falta de gratidão.


O fruto do conhecimento


O cristianismo prega que Eva comeu o fruto proibido, entregue a ela por uma serpente, e depois levou Adão a comer também. Essa visão contribuiu para que a mulher fosse vista como inferior por muito tempo, e isso tem mudado a passos lentos.

Em tempos remotos, as mulheres eram tidas como sagradas, tinham poder e eram respeitadas. Como fontes geradoras de vida e sacerdotisas eram muito próximas à Deusa, reverenciada como a Grande Mãe dos povos. Coincidência ou não, a serpente era um dos símbolos da Deusa.

Para sufocar de vez a sabedoria e o poder feminino, as igrejas difundiram a ideia de que, por “culpa” de Eva, todos padecemos fora do Paraíso. De maneira figurada, o verdadeiro conhecimento foi banido, para evitar qualquer tipo de ameaça à nova religião e ao patriarcado.

Porém, esse poder foi apenas oprimido e viveu por séculos como uma chama nos recônditos de todas as almas femininas. Curandeiras, xamãs, benzedeiras, parteiras, terapeutas, mães, avós, filhas... Como bruxas, fomos perseguidas, torturadas e mortas, sob a bandeira de um Deus, que, tenho certeza, jamais concordaria com a atrocidade de uma inquisição.

Mesmo assim, o poder do sagrado feminino se manteve vivo e ele tem chamado, cada vez mais, por todas as mulheres que, em grupo ou solitárias, o tem resgatado. Não como uma afronta a qualquer religião, mas como um grito de liberdade e de igualdade.

Comemos o fruto sim, o fruto do conhecimento, que não deve ser negado a ninguém, e hoje estamos aqui para que se faça justiça às nossas antepassadas, que viveram com medo, reprimidas e amarguradas, aceitando destinos que lhes eram impostos, unicamente por serem mulheres.

Atente aos sinais! Aqueles poderes antigos estão dentro de você, não sinta medo, eles não são proibidos, são a nossa força mais verdadeira, nosso paraíso particular. É esse poder que irá lavar a nossa alma de todas as injustiças, sinta-o dentro de você e permita que se expanda, que extravase, que preencha o mundo e o teu próprio Ser.

Viscosidade


Parece que algo quebrou dentro de mim,
Esparramando um líquido negro que está entalado na minha garganta.
Ele escorre para o peito, deixando uma mancha de angústia
E eu não consigo fazer com que minha mente se afaste dessa viscosidade.
Por mais que eu repita para mim mesma, milhões de vezes, que nada de tão grave está acontecendo,
Ainda assim estou à beira do pânico.
Qualquer mínima alteração é um enorme gatilho:
O coração dispara, vem o suor, o medo, a boca seca e a vontade de chorar.
Eu, definitivamente, já não sei mais como lidar com isso,
Tento disfarçar para os outros e para mim mesma.
Mas lá no fundo há um vazio, um grande buraco. E ele pesa.
Tem épocas que ele está lá, quieto, enclausurado,
Dessa forma é mais fácil de levar.
O problema é quando esse buraco, que mesmo vazio, pesa,
Resolve deixar que seu líquido espalhe-se dentro de mim.
Nessas horas, eu já não sei mais o que fazer...