- XIII -

Hoje, existem remédios para espíritos livres, 
Correntes encapsuladas que te conformam, 
Que te obrigam a se encaixar em um mundo torto 
E a viver nele sem questionar, no piloto automático, 
Matando sua verdadeira essência aos poucos, 
Com lentas e dolorosas doses... 
Um, dois ou três comprimidos. 
Uma bola de neve, 
Que aumenta a cada dia e te sufoca. 
Porém, insanamente, você acredita estar bem, 
Ressocializado, dentro dos padrões. 
“Saudável” novamente...

O caminho da Bruxa


Em sonho um segredo a mim foi revelado, 
Vi-me dançando junto às fogueiras e à Lua, 
Em reverência à Grande Mãe. 
Livres, Bruxas, irmãs. 
Por muitos éramos vistas como serviçais das sombras, 
Sendo que, de fato, nossos ritos buscavam o equilíbrio. 
Avós, mães, filhas, netas... 
Unidas entre si e à Natureza. 
Senhoras das florestas, donas dos campos, 
Irmãs das ervas e amigas de todos os Seres. 
Apaixonadas, celebrávamos o prazer de estarmos vivas. 
Nosso sangue sagrado corria pelas veias e de volta à Terra, 
Em um ciclo divino de troca de energias. 
Sabíamos de nossa verdadeira essência, 
Dos poderes de cura e transformação. 
Um poder inato, feminino e ancestral, 
O dom da Deusa de Mil Faces, 
A Mãe de todas as Mães, 
Que está conosco em nossos dias, nossas rotinas, nossos filhos. 
Então acordei... E me reconheci, 
Reconheci a cada irmã! 
Ainda somos avós, mães, filhas, netas... 
Ainda somos Bruxas! 
Mesmo que pareça um elo perdido, ele nunca deixou de ser forte, 
Está em nosso corpo, nas intuições, na alma e no coração. 
Não reprima esta magia, deixe-a fluir... 
Abra sua mente e deixe o caminho da Bruxa 
Te conduzir...

- XII -


Hoje o meu refúgio é o mar, 
A areia sob os pés, 
A maresia em meu rosto 
E meu corpo banhado pela luz do Sol. 
O mistério das águas me chama, 
E o canto das sereias me faz caminhar... 
Deixo-me levar pelas ondas, 
Acarinhar pelas algas, 
E no contato com as pequenas conchas 
Percebo que não estou a sonhar. 
Um mundo novo e secreto 
Abre-se diante de mim 
E eu posso viajar sem medo 
Nesse mar de águas sem fim. 
As criaturas mais belas reluzem 
Refletindo agora o luar, 
Peixes estão ao meu lado, 
Quase os posso tocar. 
 Ao ouvir um som estranho 
Começo a despertar 
E não é que foi mesmo um sonho? 
Mas, se foi, que concha é essa, 
Em meu pé a machucar?

- XI -


Na verdade, não quero muito,
Apenas uma casinha na floresta
Não precisa ter tamanho, só aconchego.
Rodeada pelas árvores,
Caminho todas as manhãs,
Sentindo as folhas sob meus pés.
Cercada pelas brumas, cuido das plantas e dos animais. 
Não preciso de muito, 
Apenas de um riacho onde eu possa banhar minha alma, 
Sentar em uma pedra, com os pés na água e relaxar. 
Ouvir o canto dos pássaros, o farfalhar das árvores, 
O aroma da Natureza. 
Quero esquecer que perdemos o rumo 
E me reconectar... 
Deixar para trás o ego sombrio do material, 
Plantar o alimento, colher as ervas, fazer minha arte. 
Sentar à sombra de uma antiga árvore para ler, 
Correr pelos campos verdes com o vento em meu rosto. 
Respirar fundo o ar puro da liberdade. 
Descalça, sinto a Terra, 
 Curando-me, me deixando mais forte, 
Resgato meu poder ancestral a cada dia, 
Faço do verde o meu poder 
E, do azul do céu, meu manto protetor. 
Não estou pedindo muito, 
Só desejo a simplicidade, 
De algo único 
 Que encontramos em nós mesmos 
E no contato com a Mãe Natureza. 
Na verdade, só desejo entrar nesse sonho, 
E viver nele a real felicidade!

A figura da bruxa é atemporal



Se, por acaso, revivêssemos o período de caça às bruxas, você já se perguntou quem seria perseguido? Vou lhe dizer: muito provavelmente você, que está lendo estas palavras, nesta página, seria considerado suspeito de bruxaria. Louco, não é? Mas, infelizmente, foi uma realidade.

Muitas ideias, culturas, comportamentos, liberdades e conhecimentos foram duramente condenados, queimados em fogueiras alimentadas pelo desprezo, medo, injustiça e irracionalidade do ser humano.

Quem mais sofreu com isso? As mulheres. Detentoras de conhecimentos antigos, práticas de saúde e técnicas para amenizar as diversas dores do corpo e da alma, elas foram perseguidas e punidas, muitas vezes, unicamente, por serem mulheres.

O fato é que esse estigma ainda habita o inconsciente (é o consciente, em algumas situações) da sociedade, sendo uma sombra ancestral que persegue muitas formas de ser e de pensar.

É difícil extirpar algo tão antigo e arraigado. Por exemplo, se reconhecer e se assumir como bruxa, sem despertar olhares espantados ou sofrer um pré-julgamento (algumas pessoas irão te queimar na fogueira de suas mentes, sem nenhuma piedade, pode ter certeza!).

Porém, cada vez mais as pessoas buscam por seus espaços, sem se preocupar com a opinião dos outros. Esse é o caminho. Ninguém precisa consentir com suas coisas místicas, sua religião, sua sexualidade, sua cor, sua cultura, sua forma de pensar, até porque não se precisa de concordância, apenas de respeito.

Sinto-me representada pela figura da bruxa, pois é atemporal, e as causas com as quais ela se envolve são, muitas vezes polêmicas, mas sempre válidas. Ser bruxa é ter a consciência da perseguição, mas também a sabedoria e o conhecimento de causa, de que é preciso continuar na luta pelos direitos de todos e na prática de suas obrigações, que estão voltadas para: a Natureza, o bem do outro, a conexão com o Universo, a magia que nos rodeia e que vive em nosso interior e para o amor. 


- X -


Ah, se um dia a tua lama te fizer lótus
Saberás que venceu...
Não a batalha entre a luz e a escuridão,
Mas o difícil caminho do equilíbrio.
Ah, se um dia a tua lótus brilhar sobre a lama
Entenderás o simples propósito da alma,
Se purificar.
Se fores lótus em meio à lama,
Seu destino se cumprirá.
Lama vira alma.
Alma vira flor.
E transcenderá.
Quando em meio à lama existir amor,
Em lótus sagrada teu espírito florescerá.


- IX -

Eu sei que há dias que não são fáceis.
Sei das batalhas travadas dentro de ti e com o mundo. Sei, mas jamais poderia mensurar.
Sei que alguns dias você se sente só e acredita que ninguém se importa.
Reconheço seu esforço.
O que posso dizer é que as coisas se amenizam: a tristeza, a alegria.
Um dia de cada vez, não é assim que sempre dizem?
Sei que você pode voltar a ser o que sempre foi. Também estou tentando.
Que tal juntarmos nossas energias?
Um restinho da minha, um pouquinho da sua e os pequenos caquinhos podem se tornar um cristal iluminado.
Pois, com amor, até mesmo o cristal se refaz.