Consciência, sentimento, um desejo reprimido, uma alma que veio a este mundo de forma diferente, para mudar a vida das pessoas com as quais têm contato, ou apenas nós mesmos, uma amostra de como somos volúveis?
O personagem principal do livro Todo
dia (que se autodenomina “A”), escrito por David Levithan, acorda todos os dias
em um corpo diferente, com a mesma idade que a sua, tendo acesso às memórias da
outra pessoa, mas mantendo a própria consciência, podendo tomar decisões.
Habitando os mais variados corpos
de adolescentes com 16 anos, “A” consegue nos mostrar como é viver um dia da
vida de outra pessoa. O exemplo mais literal do “se colocar no lugar do outro”.
Não vou resenhar a obra e nem tentar compreender a mensagem que o autor quis
passar aos leitores, não é uma interpretação de texto.
Pensei em consciência,
sentimento.
Mais ou menos na metade da
história cogitei que o personagem expressasse os desejos reprimidos destes
jovens. No dia da “invasão” eles fugiam de suas rotinas, faziam o que, no recôndito
de suas mentes, sentiam vontade de fazer. Pode ser que seja isso mesmo, há
tantas vontades sendo reprimidas, tantos “eus” escondidos por medo do
julgamento que, se fosse possível, muitas pessoas gostariam de ser, pelo menos
por um dia, elas mesmas com outra forma de pensar, com uma liberdade diferente.
Ou um corpo capaz de ir além das barreiras que o dia-a-dia vai impondo.
Considero a possibilidade de “A”
existir, como um Ser realizador de desejos, um Anjo investido de poder de
mudança, um empurrãozinho do Destino ou um Bagunçador (não sei se essa palavra
existe, mas gostei dela) de cabeças. Você e eu podemos ter tido um dia que
parece em branco ou um borrão que lembramos apenas como um déjà vu.
Ou então, o personagem reflete
como o ser humano é mutável em muitas das suas ideias e ações, de como algo,
que até então era inviolável, pode ser descartado ao despertar pela manhã. Esse
fator humano amedronta, mas também abre um mundo de possibilidades.
Leiam o livro, recomendo. É
sempre bom analisar as perspectivas. É ainda mais importante se colocar no
lugar do outro.
“A” tem muito para ensinar, é um
personagem adorável. Deve ser porque ele reconhece as diferenças entre as
pessoas, e sabe respeitá-las.