Era uma vez um lugar onde as pessoas se olhavam nos olhos para conversar, e, conversavam de verdade. Elas queriam sentir o outro, saber de suas emoções, estar perto. As crianças brincavam na rua, todas juntas, criando outros mundos e vivendo sua inocência. Havia paz.
Era uma vez um lugar onde os idosos podiam contar suas histórias e eram ouvidos com atenção e respeito. A sabedoria era valorizada e cultivada e os pais trocavam experiências com seus filhos. Havia tempo.
Era uma vez uma natureza exuberante e preservada, onde os animais sentiam-se verdadeiramente livres e as plantas respiravam sem medo. As águas eram abundantes, limpas e cheias de vida. O ar revitalizava e apaziguava a alma. Havia luz.
Era uma vez um lugar onde as pessoas caminhavam pelos campos, observavam o céu e sentiam a vida. Colhiam frutos e ornamentavam suas casas com flores. Um dia de Sol era alegre; um dia de chuva, abençoado. Havia alegria.
Era uma vez um mundo que sabia pedir, mas sabia também agradecer. Um mundo de filosofias e culturas respeitadas. Pessoas que, provavelmente, chorariam lendo essas palavras, pois, conheciam a força existente em um lugar como esse. Havia amor.
Infelizmente, houve uma intervenção nesse mundo.
Apareceu algo chamado “tecnologia” e as pessoas passaram a não mais ver os olhos do outro para conversar. Tornaram-se distantes, voltadas apenas para aparelhinhos que, aparentemente, podiam fazer tudo, menos dar amor. As crianças também se interessaram por essa novidade e a infância ficou curta e diferente. Surgiu a ansiedade.
A caixa ruidosa com imagens constantes ocupou todas as casas, ninguém mais tinha tempo para ouvir coisas do passado, só o futuro passou a ser importante, nem mesmo o presente era vivido de forma significativa. Os filhos pensavam saber muito mais do que os pais. Surgiu a distância.
Para manter todos os avanços que estavam acontecendo, a natureza foi perdendo o seu lugar, como se ela já não fosse essencial. A falsa liberdade dos animais tornou-os tristes e acuados, as plantas sentiam-se sufocadas, as águas foram poluídas e o ar acinzentou-se. Surgiu a escassez e o desequilíbrio.
O povo foi adoecendo e já não via mais o belo que o rodeava. Os frutos foram substituídos por medicamentos, os motores passaram a avançar pelos caminhos e, como iam muito rápido, já não era possível ver o céu. Sol demais prejudicava a pele e a chuva podia causar outros problemas de saúde. Surgiu a fragilidade extrema.
A descrença começou a crescer nos corações que, agora, sentiam-se abandonados. Lamentações e ingratidão tornaram-se constantes. Os valores de fé, sabedoria e honra foram sendo esquecidos. Alguns ainda pediam, mas poucos se voltavam para agradecer. As palavras verdadeiras já não tinham mais força e poucas vezes despertavam emoção. Surgiu um povo que se esqueceu da vida.
Era uma vez...