De quem é a culpa?

Higor Magno - UrbanArts

Ouvi-me falando uma expressão muito usual: “a ansiedade e a depressão são os males do século” e então comecei a refletir sobre o porquê disso e olhei para os dias da maioria das pessoas. 
Precisamos enviar um e-mail importante, no primeiro momento o computador demora a ligar, consequência: irritação; quando liga está travando, consequência: mais irritação; se a internet não estiver funcionando corretamente então, é quase o apocalipse! Quando, finalmente, o e-mail é enviado, aguardamos pela resposta e se ela não vier em cinco minutos o estresse retorna e começamos a ficar agitados, em alguns casos pegamos o telefone para falar diretamente com a pessoa, temos pressa, precisamos urgentemente da resposta. Não dá para esperar! Lembrando que antigamente a comunicação era por cartas, que demoravam a chegar ao destinatário e ainda mais para que o remetente tivesse a resposta necessária e eu pergunto: o mundo acabou por isso? 
Do outro lado da linha o indivíduo não atende a ligação – “Será que não percebem que tenho mais o que fazer”- até que, alguém resolve por fim a aflição, só que essa pessoa não pode nós ajudar, então, transfere a ligação e lá vem a musiqueta de espera para nosso desespero, consequência: mais irritação. O responsável conversa conosco e nos diz que irá analisar o e-mail enviado, consequência: não conseguimos o necessário e será preciso aguardar novamente pela resposta do e-mail e aí se instala mais estresse. Nunca se esquecendo das cartas de antigamente. O mundo acabou? Não, o mundo não acabou. 
Precisamos da resposta do e-mail para hoje e, como combinado por telefone, ela virá, só que, devido a chuva, a nossa internet resolve cair e não é possível acessar aos e-mails. Ligamos para o responsável pela conexão e ele promete que em dez minutos estará no local para resolver o problema. Passam-se dez, quinze, trinta, quarenta minutos e nada. Ligamos novamente: está chegando. Mais trinta, quarenta, cinquenta minutos e então ele chega. Demora vinte minutos para solucionar o problema e então o e-mail é finalmente acessado e a resposta obtida. 
O prazo para a resolução do problema está se esgotando, pois, atualmente, tudo é para ontem. Analisamos o e-mail, finalizamos a tarefa minutos antes de o prazo expirar, em um frenesi de estresse e preocupação e quando, finalmente, o assunto está resolvido sentimos um alívio mascarado, pois a dose de perturbação foi tão grande que o bem-estar demora a instalar-se novamente, ficamos agitados pelo resto do dia. 
Ao sair, a chuva continua e reclamamos por ela estar caindo sem parar e não termos guarda-chuva – “Como pode tanto problema em um dia só?” – Um táxi será necessário – “Mais gastos, esse mês acabo no vermelho!” – E então vem o trânsito, que em dias de chuva, em vários locais, é muito pior do que nos outros dias: congestionamento, buzinas, motoristas irritados e/ou imprudentes, pedestres correndo pela rua sem prestar atenção nos veículos... Resultado: nível de irritação em estado avançado. E antigamente? Se bem lembro andavam a cavalo ou em carroças e demoravam muito mais para chegar ao seu destino. Pergunte para seus avós se isso era motivo de irritação para eles? 
É por isso que admiro cavalos e cartas.

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